quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O melancólico fim dos Compact Discs

Abro uma exceção hoje para falar de um assunto que não está ligado diretamente ao rock, mas, por ter relação direta com a música e com a paixão por esta arte, torna-se legítima a sua publicação neste humilde blog. Trata-se da história do Compact Disc, ou, carinhosamente, CD, inventado conjuntamente pelos japoneses da Sony e pelos holandeses da Philips em 1980.

Pois bem, essa nova tecnologia, que prometia qualidade digital de som, além de uma durabilidade superior ao vinil, está completando 28 anos, e o tempo mostrou que muita coisa que foi prometida, na verdade, não passava de um engodo e da mais desprezível demonstração de ganância da indústria fonográfica mundial. Mas, o tiro saiu pela culatra, quer dizer, mais ou menos.

Nos idos de 1990, já existiam cds no Brasil, mas o número de títulos disponíveis ainda era muito restrito, e me lembro bem de uma loja no centro de Vila Velha que tinha milhares de vinis nas bancas e uns poucos cds expostos na vitrine, como se fossem jóias, objetos de adoração e com preços bem salgados, proibitivos para adolescentes durangos como eu.


Comecei a me interessar por música de uma forma mais profissional, digamos, quase doentia, exatamente nessa fase de transição do vinil para o cd, e os primeiros discos que adquiri na vida eram vinis dos Engenheiros do Hawaii, Rush e Pink Floyd, já que os primeiros disquinhos reluzentes eram vendidos por quase o triplo do valor de um vinil. Além disso, os aparelhos para tocar cds também eram muito caros e a saída era pedir para colegas de sala mais abastados que já possuíam os tão desejados cd players gravarem fitas cassete para mim...

A primeira coleção musical que tive constava de alguns vinis e dezenas de fitas cassete, mas não eram quaisquer fitas, eram gravações de cds, ou seja, de uma qualidade MUITO superior às fitas comuns (meu Deus...). Eu guardava aquilo tudo com muito carinho, e as ouvia sem parar, até que, desafortunadamente, elas agarravam no tape deck...era hora de usar cotonete e álcool isopropílico para limpar o cabeçote e evitar maiores danos. Haviam também, entre essas fitas, muitas gravações de um saudoso programa que ia ao ar nas tardes de sábado na extinta Rádio Capital FM, o Êxtase, cujos personagens principais eram o seu Crown e o simpático Bubble, ehheeh, saudades...


Bem, com a crescente popularização do cd, o mesmo foi se tornando mais acessível aos pobres mortais trabalhadores, e, por volta de 1992, comecei a adquirir os meus primeiros compact discs...começava uma longa e complicada história de amor...

Durante muito tempo, o meu passatempo preferido era garimpar as gôndolas de lojas de cds horas e horas a fio à procura de uma raridade, mas, principalmente, de boas promoções. Foi assim que adquiri, por exemplo, o Skunkworks do Bruce Dickinson no Carrefour por R$4,99 e deixei de comprar o Live Evolution do Queensryche na Martini por R$ 13,99 (é incrível como a gente não esquece essas coisas...) Além disso, costumava comprar muitos cds pela Internet também, como o Rising do Rainbow, Thundersteel do Riot e Holy Diver do Dio, numa época em que o dólar estava equiparado ao real, lá pelos idos de 1994, 1995, Era uma festa...

Eis que o cd, ou melhor, a indústria do cd, sofre o seu primeiro abalo, a chegada dos gravadores de cd. Até então, a única opção eram as fitas cassete, que foram definitavente enterradas com o advento desse maravilhoso aparelho. Adquiri o meu primeiro cd recorder para computador, por uma pequena fortuna, em 1998, e não é preciso dizer que uma nova revolução estava a caminho. Agora seria possível fazer trocas e até vender gravações... bem, melhor pular essa parte.

A minha sede por novidades foi crescendo e minha coleção foi aumentando agora de uma forma exponencial. Comprava aqueles tubos de 100 cd-r e gastava tudo em menos de um mês, sem contar os cds originais que continuava comprando, afinal, a mídia cd-r não era tão em conta quanto é hoje em dia. Um verdadeiro intercâmbio musical estava sendo colocado em prática e até por correspondência eu já fiz belas trocas e consegui coisas raras como o Adicted to Reality dos mineiros do Overdose, que até hoje não foi lançado em cd (e pelo jeito nunca será...).

A pirataria se tornou um grande inimigo das gravadores (há controvérsias, mas vá lá), mas o que viria pela frente ainda seria pior. Em 1987, em um laboratório do Instituto Fraunhofer, na Alemanha, um grupo de pesquisadores desenvolveu um algoritmo para compressão de áudio chamado Eureka-EU 147. Nascia o mp3, mas, o segundo grande abalo sofrido pelos managers das grandes gravadoras, esse de proporções cataclísmicas (nossa!), seria provocado por um moleque de 19 anos chamado Shawn Fanning, que criou a primeira versão do Napster em 1999, a primeira ferramente eficiente de busca de músicas no formato mp3 da internet. Anos mais tarde esse programa foi proibido, mas, a porteira já estava aberta.


A internet brasileira não era grande coisa na década de 90, e por isso, o formato mp3 não foi levado muito a sério. Além disso, era preciso um computador para ouvir arquivos nesse formato, o que, inclusive pra mim, era considerado algo desconfortável. Com a expansão e popularização da rede mundial de computadores e a produção em larga escala de mp3 players compactos e baratos, essa "praga" se alastrou muito rapidamente e hoje decretou o fim dos compact discs.

Particularmente, tive muita resistência em colecionar mp3. Para o rock and roll, a arte de uma capa ou de um encarte sempre desempenharam um papel fundamental (para algumas bandas, mais importantes até do que o próprio som, ehehe), e esse foi o principal motivo da resistência, além de uma desconfiança de que a qualidade desse tipo de formato era inferior a qualidade dos cds.

Hoje, sabemos que o cd não tem tanta qualidade assim, e que, inclusive, para algumas faixas de frequência, o vinil era melhor, além de ter um som mais quente, mais vibrante, mais com ares de ao vivo. Além disso, descobri por esses dias que a humidade é um inimigo mortal dos compact discs. Tanto a própria mídia, quanto principalmente o encarte, precisam de cuidados muito especiais, pois em pouco tempo, um fungo abre um buraco na mídia e aí adeus cd!

Resumo da ópera, tivemos que engolir um produto de qualidade inferior ao vinil, durante quase vinte anos. Mas, agora, o mp3, juntamente com a moderna tecnologia dos home studios e a democracia da Internet, decretaram o fim do cd e das gravadoras, pelo menos nos modelos atuais, já que é relativamente fácil e barato gravar músicas no quintal de casa, converter para mp3 e divulgar na grande rede. O único problema disso é que, bem ou mal, as gravadoras desempenhavam um papel de filtrar os artistas que poderiam gravar, e isso agora não será mais possível.

Bem vindos ao futuro da música!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Pepeu Gomes - 20 Anos - Discografia Instrumental (1998)

Eu sei, eu sei, este blog é dedicado ao rock and roll e todas as suas vertentes, mas não consegui ficar imune à música desse disco e resolvi divulgar, pois acima de tudo, trata-se de material do mais alto gabarito. Além do mais, sempre costumo dizer o seguinte: quem ouve rock tem o ouvido mais eclético, por que, eventualmente, consegue ouvir outros estilos; já quem ouve outros estilos, raramente consegue ouvir rock.

Discografia Instrumental é um inventário sobre a carreira instrumental de Pepeu Gomes, resgatando, na íntegra, as músicas do seu primeiro trabalho solo, Geração de Som (1978) e Instrumental on the Road (1989), além de outras coisas. Portanto, você não vai ouvir aqui Sexy Iemanjá, Mil e Uma Noites de Amor ou Masculino e Feminino, que alavancaram a carreira dele como cantor na década de 80.

Ao contrário, você vai ficar embasbacado e de queixo caído quando ouvir o que este baiano "retado" é capaz de fazer com a guitarra, violão, bandolim, cavaquinho, etc, etc, ... A primeira grande surpresa para quem só conhece sua carreira de cantor ao lado de sua ex-esposa Baby Consuelo, é descobrir que ele passeia com extrema classe por diversos estilos, da bossa nova e do jazz à salsa, merengue, chorinho, rumba, e sei lá mais o que, sempre acompanhado de excelentes músicos, que também dão um show à parte. Destaque para as sensacionais Cartagena, Amazônia e o estupendo pout-pourri Lamento/Noites Cariocas/Aquarela do Brasil/Assanhado/Brasileirinho, uma aula de técnica e de interpretação!

É meu amigo, se você ainda acha que Steve Vai, Joe Satriani e Steve Morse são os únicos guitarristas do mundo, você ainda precisa entender muita coisa, e a principal delas é o seguinte: o que importa na música é ter estilo, e isso Pepeu Gomes tem de sobra! Caso contrário, não teria sido convidado tantas vezes para tocar no festival de Montreaux e não teria sido considerado pela revista Guitar World o melhor guitarrista da América Latina! Chupa essa manga!

Tarja - My Winter Storm (2007)

Em 1997, o Nightwish era uma banda underground pouquíssimo conhecida, vinda da gélida Finlândia, e que praticava um metal gótico/sinfônico influenciado pelos holandeses do The Gathering e pelos noruegueses do Theatre of Tragedy. O disco de estréia, Angels Fall First (1997), já trazia a semente do que poderia se tornar uma grande banda, precisando apenas de uma produção mais caprichada. Potencial a banda tinha de sobra, principalmente a vocalista, a então "gordinha" Tarja Turunen (pronuncia-se "tária"), que fazia um vocal soprano, pouco usual para esse tipo de som, e o tecladista e mentor da banda, Tuomas Holopainen.

O primeiro disco que escutei do Nightwish foi o soberbo Oceanborn, lançado em 1998. Confesso que fiquei bastante impressionado com os arranjos e com a voz de Tarja. Daí pra frente, a banda foi incorporando a cada novo trabalho uma carga dramática ao seu som, tanto por conta dos arranjos hiper-densos de Holopainen quanto pelo vocal forte e doce de Tarja, que em pouco tempo, romperia as barreiras da grande mídia e se tornaria, junto com os norte-americanos do Evanescence, as maiores bandas do gênero do mundo. Isso aconteceu em 2004, quando lançaram o magnífico Once. A perfeição parecia ter sido atingida, Tarja e Tuomas formavam uma dupla imbatível, apesar dos rumores de crescentes desentendimentos internos.

Bem, a história parece se repetir, mudando apenas os nomes dos personagens: o vocalista abandona a banda no auge da carreira. Pois é, Tarja deixou a banda em 2005, ou melhor, foi convidada a sair, segundo uma carta divulgada por Holopainen no site oficial da banda naquele ano. A carreira solo seria natural e nos restou apenas aguardar dois anos para por as mãos, ou melhor, os ouvidos, neste My Winter Storm.

A primeira faixa, após a breve introdução Ite, Missa Est, é um recado para os seus ex-companheiros de Nightwish, I Walk Alone (Eu Caminho Sozinha) e já dá uma pista do estilo que Tarja escolheu para seguir. A música é uma espécie de balada, com refrão forte, parecida com algumas que o Nightwish já fez, mas, a segunda faixa, Lost Northern Star, deixa claro que a pista foi falsa e que o ritmo vai se manter de médio para lento, ou seja, nada de dois bumbos e velocidade, além da guitarra desempenhar um papel secundário.

Bem, daí em diante, percebe-se que, na verdade, você não está ouvindo um disco de rock, trata-se de uma ópera (no estilo Andrew Lloyd Weber) que vai adquirindo uma atmosfera densa, como em The Reign, onde Tarja arrebenta e dá um show! Como canta essa moça! Além disso, você percebe também que o rock é apenas um dos recursos possíveis, e além do mais, os principais instrumentos aqui não são guitarra, baixo e bateria, que inclusive estão baixos na mixagem, ao contrário, são violinos, cellos, violas, etc que comandam a festa. Penso que o Nightwish e o metal gótico se tornaram pequenos demais para aprisionar o talento de Tarja.

O disco conta com o fenomenal Doug Wimbish (Living Colour) no baixo e a participação especial de Kiko Loureiro nas faixas The Reign e Calling Grace. Destaque para o cover de Poison de Alice Cooper, talvez uma das músicas que mais se assemelhem ao som que o Nightwish estava fazendo, porém, com uma pitada pop bem interessante. Destaque também para a décima sexta música, a pesada Ciaran´s Well, que também se parece com Nightwish e aquela cuja guitarra está mais presente. Pra mim, uma espécie de recado de Tarja de que ela é capaz de fazer a mesma música de sua antiga banda, mas, não quer, heheheh, igual criança!
Particularmente, admiro os vocalistas que saem de suas bandas para seguir uma carreira solo por que desejam fazer algo diferente. Quando vejo que o carinha abandonou seus companheiros apenas para não dividir mais a grana, acho que isso é desonestidade para com ele mesmo. E nesse ponto, tiro o chapéu para Tarja, que seguiu seu caminho com vontade de fazer o seu próprio som e com certeza, ela vai brilhar muito, pois trata-se de uma grande estrela!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Dio - Discografia comentada

Quando Ronnie James Dio deixou o Black Sabbath em 1982, já estava divulgando seu primeiro trabalho como artista solo, que foi lançado em 1983. Para essa nova empreitada, arrastou Vinnie Appice (que estava no Sabbath), Jimmy Bain (companheiro da época do Rainbow), Claude Schnell (teclados) e um moleque até então desconhecido chamado Vivian Campbell (guitarras). A escolha não poderia ter sido melhor, e essa formação gravaria os dois melhores trabalhos de Dio, os irretocáveis Holy Diver e Last in Line.

Por onde passou, Ronnie James Dio não apenas cantava, mas escrevia a maioria das letras e criava todas as melodias vocais. Na década de 70, quando estava no Rainbow, as letras falavam sobre misticismo, magia ou simplesmente exaltavam o seu amor pelo rock and roll. No início da década de 80, quando estava no Black Sabbath, além desses temas, passou também a falar sobre cavaleiros, dragões, reis e rainhas, mas, sempre sobre a supervisão de grandes figuras como Blackmore e Iomi. Mas, cantar e escrever as letras não era o suficiente, e uma carreira solo seria inevitável, assim como a produção de seus próprios discos. Livre de interferências externas, ele optou por um rock mais pesado e mais rápido e foi ainda mais fundo nos temas mísiticos, mas nunca esquecendo o rock and roll e o caçula da família, o heavy metal. Os anos 80 seriam o auge de sua carreira.

A década de 90, ao contrário, acabou se revelando a idade das trevas da carreira solo de Ronnie James Dio. Coincidentemente ou não, o diabão não apareceu na capa de nenhum disco dessa época e os mesmos ficaram bem espaçados, com intervalos de até quatro anos. O único disco que realmente vale a pena ser ouvido desta época ele gravou com o Black Sabbath em 1992, o inoxidável Dehumanizer, uma porrada sonora na orelha! Mas, como este post trata da carreira solo do cara, vamos continuar seguindo este propósito.

No século XXI, para alegria dos antigos fãs, a inspiração parece ter retornado e discos muito bons foram lançados, uma espécie de revival dos gloriosos anos 80. Vamos à discografia!


Holy Diver (1983)
Um disco forte e completo. Começa com a eletrizante Stand Up and Shout, depois com a clássica faixa título e sua levada cadenciada e pesadona, passando pela poderosa Don´t Talk to Strangers e até pela comercial Rainbow in the Dark. Dio está solto, suas composições estão perfeitas e os anos de experiência fizeram muita diferença em sua voz, que está matadora. Destaco igualmente a performance de Vivian Campbell, fazendo bases marcantes, ganchudas e solos a mil por hora, no clima! Arrasador! Nota: 9,5.



The Last in Line
(1984)
Depois de um excepcional disco de estréia, fica sempre a expectativa: será que o segundo será tão bom quanto o primeiro? Na grande maioria das vezes, ficamos decepcionados, pois parece que a energia dos estreantes acaba se perdendo. Mas, como toda regra tem exceção, eis um segundo disco que é ainda melhor que o primeiro!
É impossível não ouvir este disco do começo ao fim, pois todas as faixas são verdadeiros clássicos metálicos: o hino We Rock, a grandiosa The Last in Line, a animada Breathless, a eletrizante Speed at Night , a empolgante One Night in the City, a contagiante Evil Eyes, a comercial Mystery, a forte Eat Your Heart Out e a épica Egypt (The Chains Are On) .
O line-up está ainda mais entrosado e Vivian está ainda mais destruidor! Clássico para a eternidade! Nota: 10,0.



Sacred Heart (1985)
Em 1985, Ronnie James Dio esteve envolvido com o projeto Hear N´Aid, que reuniu vários artitstas do mundo do rock com o objetivo de levantar fundos para as vítimas da fome na África. O reflexo desse ligeiro abandono foi um disco morno, se comparado a The Last in Line. Porém, se você escutá-lo isoladamente, sem comparações, é um excelente disco, um pouco mais comercial (ouça Rock and Roll Children e Hungry For Heaven), mas ainda muito forte (ouça King of Rock and Roll e a faixa título). Os shows desta turnê foram muito grandiosos, com muitos lasers (novidade na época!) e dragões mecânicos gigantes que cuspiam muita fumaça e com os quais Dio lutava empunhando sua espada. Nota: 9,0.



Intermiss
ion (1986)

Vivian Campbell decidiu deixar a banda em plena turnê do álbum Sacred Heart, e para o seu lugar, Dio trouxe Craig Goldie, ex-Driver, Rough Cutt e Giuffria. Para ganhar tempo e compor novas canções, foi lançado este álbum com uma faixa inédita, Time to Burn e seis faixas ao vivo.
Não acrescenta nada de muito novo, mas, pela vale pela energia! Nota: 8,0.



Dream Evil (1987)
Craig Goldie faz sua estréia em estúdio e se sai muito bem na difícil tarefa de substituir Vivian Campbell. Dio não deixa a bola cair, compondo mais músicas de qualidade, como a faixa título, Night People, Overlove, Naked in the Rain e a belíssima semi-balada All the Fools Sailed Away. Os temas épicos de dragões-magos-espadas-e-rosas agora dividem espaço com assuntos mais pé-no-chão, como o relacionamento entre duas pessoas. A música continua muito boa, pesada quando deve ser pesada, e emotiva quando deve ser emotiva, como em I Could Have Been a Dreamer, que tem um forte apelo comercial, afinal de contas, o cara precisava pagar as contas né? Nota: 9,0.



Lock Up the Wolves (1990)
Depois de gloriosos dias com o Rainbow e Black Sabbath, somados a oito anos de carreira solo, Dio acumulou um currículo invejável: 15 anos de sucesso e 12 discos lançados, sendo que alguns fazem parte de qualquer lista dos 100 melhores de todos os tempos. Pode-se dizer até que todos esses discos são, no mínimo, muito bons.
O primeiro passo ladeira abaixo da carreira foi este Lock Up the Wolves. Depois de uma debandada geral da sua banda, Dio precisou se reiventar, e para isso, chamou Rowan Robertson (guitarra), Teddy Cook (baixo), Jens Johansson (teclados) e Simon Wright (bateria).
Tudo mudou. A indumentária, que deixou o couro de lado e colocou o jeans rasgado no lugar, as letras, um tanto superficiais, e, principalmente, a música, um hard rock meio forçado, pois essa definitivamente não é a praia de Ronnie James Dio. Um disco fraco. Nota: 6,0.



Strange Highways (1993)
Pela primeira vez, a voz de R. J. Dio demonstrou sinais de cansaço, e algumas notas mais altas ficaram difíceis de serem alcançadas. A banda foi toda mudada novamente: Vinnie Appice reassumiu as baquetas, Jeff Pilson o baixo e Tracy G. assumiu as guitarras e foi, sem dúvida, a primeira vez que Ronnie errou na escolha do guitarrista. O cara não fazia solos e parecia bastante limitado tecnicamente falando. As músicas estão excessivamente pesadas e arrastadas, os instrumentos estão com uma afinação baixa, descaracterizando completamente o som que consagrou Dio. Uma lástima. Nota: 4,0.


Angry Machines (1996)
As composições melhoraram um pouco neste trabalho, mas o som continuou muito arrastado e a voz de Ronnie continuou demonstrando sinais de desgaste. As músicas carecem de refrão e as melodias vocais de inspiração, e o mais impressionante, o tal Tracy G. não aprendeu nada desde o álbum anterior e não faz um solo sequer! Os destaques vão para as medianas Don´t Tell the Kids, Black, Hunter of the Heart, Stay Out of My Mind e a balada This Is Your Life. Quase quatro anos após Strange Highways, o inferno astral parecia continuar pairando sobre a carreira de Ronnie. Um disco bem fraquinho. Nota: 5,0.



Inferno: Last in Live (1998)
Para acabar com a urucubaca, desenterrar a cabeça de burro e jogar muito sal grosso em cima, Ronnie (ou a gravadora) resolveu terminar a década negra com esse Last in Live, uma verdadeira aberração. O tal Tracy G. conseguiu destruir todos os clássicos da carreira do seu patrão, e assinou sua demissão, mais do que merecida e com 6 anos de atraso! O título talvez seja uma alusão ao sentimento de Ronnie naquele momento: que inferno, este é o último ao vivo ! Fraco com força! Nota: 3,o.


Magica (2000)
Um novo sopro de vida sobre o trabalho de R. J. Dio. Um disco conceitual sci-fi que marca o retorno de Jimmy Bain e Craig Goldie à banda, e como é bom ouvir um solo de guitarra novamente, depois de uma década! Para a bateria foi chamado Simon Wright.
Apesar de apresentarem refrão, as músicas ainda estão meio arrastadas, mas desta vez, Ronnie soube adequar as melodias vocais à sua nova condição vocal, afinal meu amigo, àquela época, o cara já estava com 58 anos! Nota: 7,5.



Killing the Dragon (2002)
O dragão de volta já era um bom presságio e mais uma reformulação na banda, que agora contava com Simon Wright (bateria), Jimmy Bain (baixo), Doug Aldrich (guitarra) e Scott Warren (teclados). Representou uma bela evolução em relação ao álbum anterior e se aproximou ainda mais do estilo da banda nos anos 80. Destaques para a faixa e título, Push e Rock and Roll, inspirada nos no ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, algo do tipo nós temos o rock and roll e isso não pode ser tirado de nós... Nota: 8,0.



Evil or Divine (2003)
Aproveitando a boa fase, Ronnie resolve registrar um show da turnê de Killing the Dragon, lançando também a versão em Dvd. Decisão muito acertada, pois ele está cantando como nunca e sua banda, a mesma que gravou o álbum anterior está muito afiada, quicando nos cascos! Doug Aldrich (ex-Whitesnake) é um exímio guitarrista e se encaixou muito bem na banda, executando os solos de Vivian Campbell com extrema facilidade.
Com apenas duas músicas do álbum mais recente, as eletrizantes Killing the Dragon e Push, Dio presenteia os fãs com uma verdadeira seleção best of de sua carreira, desde a inoxidável Stand Up and Shout (do Holy Diver), passando pelas clássicas We Rock (do Last in Line) , incluindo ainda coisas mais recentes como Fever Dreams e Lord of the Last Day (do Magica) e até mesmo Man on The Silver Mountain e Long Live Rock and Roll, do Rainbow e Heaven and Hell, do Black Sabbath. E a performance do cara aos 61 anos? Como o próprio Iomi comentou recentemente: ele sobe no palco e detona toda noite! Um álbum revigorante! Nota: 9,0.



Master of the Moon (2004)
Embalado por bons ventos e vivendo agora o renascimento da sua carreira, Ronnie consegue manter o nível de Killing the Dragon neste ótimo álbum, trazendo de volta Craig Goldie e Jeff Pilson. Não se pode comparar com os gloriosos Holy Diver e The Last in Line, mas é digno de uma audição cuidadosa. Nota: 8,5.



Holy Diver Live (2006)
A banda é a mesma que gravou Evil or Divine, com exceção de Jimmy Bain que foi substituído pelo competente e bem rodado, no bom sentido, Rudy Sarzo. A emoção e a energia é também praticamente a mesma, com o detalhe de que neste álbum, que também teve sua versão lançada em Dvd, são executadas todas as músicas de Holy Diver, na sequência, uma atrás da outra. Cardíacos que se cuidem! Nota: 9,0.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Helloween - Chameleon (1993)

Não raramente, uma avaliação mais correta e mais justa do valor (artísitico) de um disco deve ser feita alguns anos após o seu lançamento. Acredito que isso seja comum a qualquer manifestação artística, pois o impacto que ela provoca na sociedade e inclusive nos outros artistas, pode ser melhor analisado com o passar do tempo.

Um exemplo clássico do que estou falando é o álbum Chameleon do Helloween. À época do seu lançamento, em 1993, esse trabalho foi execrado pela crítica e também pelo público, inconformado com a suposta traição dos integrantes ao heavy metal. Hoje, 15 anos após o lançamento desse álbum, podemos fazer uma análise mais tranquila e mais equilibrada do que aconteceu.

Primeiro, é preciso situar o leitor mais desatento. Em 1993, o heavy metal estava em baixa, pois ainda reinavam nas Mtv´s da vida as bandas grunge de Seattle e, portanto, lançar um álbum metálico naquela época era certeza de virar acervo permanente nas lojas de discos. Em particular, o Helloween não vinha de um álbum muito bom, o regular Pink Bubbles Go Ape, igualmente massacrado pela crítica e público, além de ter perdido, houvera pouco tempo, Kai Hansen, um dos fundadores da banda.

A avaliação do fã ao colocar Chameleon na vitrola não poderia ter sido diferente: "a banda degringolou de vez, não é mais metal, tá fazendo um sonzinho bem comercial! Traidores!" Nunca na história da música pesada, houve um equívoco tão grande, pois com a isenção do isolamento temporal (enfu!) posso garantir: o disco é absolutamente sensacional! Soberbo!

A música que abre o disco é a alegre First Time, que dá o tom do trabalho como um todo. Mas, as grandes surpresas ainda estavam por vir. Na segunda faixa, When the Sinner, aparece um naipe de metais no final da música, e é bom o ouvinte ir se preparando, pois na quarta faixa, a banda se solta de vez e manda Crazy Cat, com MUITOS metais, em um ritmo dançante! Isso mesmo! Momentos mais pesados aparecem em Giants, Revolution Now e na carismática Step Out of Hell, e momentos mais comerciais, mas sem perder o padrão Helloween de qualidade, como In the Night. Até as vóvós foram presenteadas com uma singela canção: Windmill.

Um disco transgressor, sem denominações, e que mostrou uma banda livre das amarras dos padrões e chavões do heavy metal, o que é próprio das obras-primas. Esse trabalho também marcou a despedida de Michael Kiske, que seguiu carreira solo, e de Ingo Schwichtenberg, que deixou a banda em 1993 e suicidou-se em 1995 aos 29 anos.

Um disco sensacional, imperdível e imprescindível nos dias de hoje!






segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Manowar - Warriors of the World (2002)

O Manowar sempre se auto-denominou a banda mais barulhenta do mundo (agora isso está registrado no Guiness Book of Records, eles atingiram 129,5 dB, sendo que uma turbina de um jato alcança 130 dB !!!) e a verdadeira (e única) representante do mais legítimo heavy metal. O que você pensaria então sobre um disco do Manowar em que mais da metade das músicas tem um andamento de médio para lento, e que além disso, traz dois covers, uma ópera de Puccini e uma música tradicional americana gravada por Elvis Presley nos anos 70? Você ficaria espantado com certeza...

Nono disco de estúdio de uma carreira que começou oficialmente em 1982, Warriors of the World é um disco surpreendente. A primeira faixa, Call to Arms, mostra um Manowar mais maduro, mais preciso, e com um Eric Adams irrepreenssível, mais agressivo e certeiro (aliás, como sempre). A terceira, Nessun Dorma (Puccini) é uma ópera que ficou famosa na voz do tenor italiano Luciano Pavarotti, e foi gravada pelo Manowar em homenagem à mãe de Adams, que faleceu durante as gravações. O cara dá um show e se mostra ao mesmo tempo corajoso e versátil. An American Trilogy é uma junção de três músicas tradicionais americanas que foi lançada ao vivo por Elvis Presley em 1972, mas que ficou muito boa na voz de Adams.

Bem, a parte mais tranquila desse disco termina com a instrumental The March. Daí pra frente meu amigo, são quatro cacetadas na sua orelha, sem dó nem piedade: Warriors of the World United, um verdadeiro hino, com um refrão grudento e backing vocals estupendos, seguido de Hand of Doom, House of Death e Fight Until We Die.

Tirando o marketing, as roupas de couro colada, as letras sobre espadas, guerreiros e cavalos, as capas sempre com homens musculosos e outras viadagens, os caras realmente tocam pra c...! E tudo é feito com tanta paixão, com tanta verdade e convicção, que você realmente se sente em um campo de batalha, lutando ao lados dos brothers of metal pela sua liberdade!!! ehehehe

Exageros à parte, os caras se mantiveram fiéis ao que se propunham durante mais de 25 anos, e considero este Warriors of the World uma pequena ousadia, mas que não afetou em nada a imagem da banda, pelo menos pra mim, pois acho que só as grandes bandas de verdade tem coragem de ousar e experimentar novos horizontes. Um discaço!