Uma banda que merece todo respeito no cenário metálico nacional é o Viper, pelo seu pioneirismo, pela qualidade da sua música e principalmente pela sua garra, afinal de contas, sair do Brasil e ganhar o mundo no final da década de 80 fazendo música pesada não era nada fácil. Reza a lenda que os irmãos Pit e Yves Passarel tinham uma banda e estavam à procura de um vocalista, quando um moleque chamado André Matos, que morava no prédio ao lado, subiu no muro e pediu para pegar a bola que havia caído na quadra do prédio deles. Bendito chute!
Nascia então o Viper. Em 1985 gravaram sua primeira demo, e depois de muitos ensaios e pequenos shows, lançaram seu primeiro long play em 1987, recebendo excelentes críticas da mídia especializada. Com o segundo disco, de 1989, alcançaram reconhecimento mundial, principalmente no Japão, onde conquistaram uma verdadeira legião de fãs. Em 1996, após problemas com gravadoras e já sofrendo um desgaste natural, a banda fica impedida de lançar um novo trabalho por problemas judiciais e se separa definitivamente em 1999, após a perda de Yves Passarel, que decidiu tocar no Capital Inicial. Mas, eis que onze anos depois, para nossa surpresa e alegria também, surgem com uma nova formação e um novo trabalho, intitulado All My Life. Vamos à discografia dos caras.
Soldiers of Sunrise (1987)
Fortemente influenciado por
Iron Maiden, esse disco mostra uma banda imatura (André Matos tinha 16 anos na época) na mesma proporção da sua empolgação. As letras falam de guerreiros, dragões e espadas, o andamento é característico do que se convencionou chamar de
heavy metal tradicional, com direito a duetos de guitarra, falsetes e baixo pulsante. Gravado e mixado no Brasil, a qualidade da gravação deixa a desejar, mas ainda assim, a sonoridade da banda agradou a mídia especializada, com verdadeiros hinos como
The Whipper, Knights of Destruction e Wings of the Evil.
Nota: 9,5.
Theatre of Fate (1989)
A consagração mundial era só uma questão de tempo após o lançamento de
Soldiers on Sunrise. A banda não decepcionou e evoluiu bastante, amadurecendo as composições, que passaram a contar com outros elementos como piano e orquestra, além de passagens que misturavam música clássica com
heavy metal. O talento de André Matos ficou evidente nesse trabalho, onde compôs algumas canções e cantou muito melhor do que no disco anterior. Verdadeiras pérolas estão nesse play, como
To Live Again, A Cry From The Edge e Living For the Night.
Nota: 10,0. Evolution (1992)
No auge do sucesso, André Matos surpreende a todos e decide deixar a banda para se dedicar aos estudos da faculdade de música. Pit Passarel assume os vocais e surpreende a todos pela sua garra e vontade de não deixar a peteca cair. Um bom disco, porém, abolutamente diferente do álbum anterior. O direcionamento escolhido foi algo no limiar do punk com o hard core, uma sacada muito bem feita por Pit, afinal, como atingir os agudos de André Matos? Boas músicas sairam daqui, como
Coming From the Inside, o hit radiofônico
Rebel Maniac ("Everybody, everybody"),
Dead Light e
The Shelter.
Nota: 8,5.
Vipera Sapiens (EP) (1992)
Um disco de transição, que mostra uma banda perdida em termos musicais após a saída de um dos principais integrantes e com vontade de mostrar logo que pode sobreviver sem ele. É muito difícil encontrar esse disco, composto por sobras de estúdio do
Theatre e outras composições mais recentes. Confesso que recorri aos blogs da vida para achá-lo...Indicado só para fãs.
Nota: 6,0. Maniacs in Japan (1993)
Apesar da gravação extremamente tosca, este disco vendeu bastante na época e foi o primeiro disco do Viper que ouvi. Pit canta os sucessos atuais do álbum
Evolution e se sai muito bem também cantando clássicos imortalizados na voz de André Matos, como
Living For The Night e
A Cry From the Edge. As surpresas ficam por conta dos covers Não Quero Dinheiro (Tim Maia), We Will Rock You (Queen) e I Wanna Be Sedated (Ramones). A empolgação da banda fica latente, e supera qualquer problema técnico de gravação, tornando esse álbum um autêntico registro ao vivo da energia do Viper.
Nota: 8,5.
Coma Rage (1995)
Continuando na mesma linha punk-hard core do
Evolution,
Coma Rage foi gravado nos Estados Unidos com produtor gringo e o resultado técnico foi muito bom, porém, Pit Passarel deixou um pouco a desejar nas composições e apesar de duas músicas terem sido bastante executadas, a faixa título e
I Fought the Law, inclusive na Mtv, a banda acabou fazendo um disco nem um pouco comercial. A energia do álbum anterior ainda está aqui, mas poucas músicas merecem destaque além das já citadas, apenas
Keep the Words, que já vale o disco.
Nota: 6,5. Tem Pra Todo Mundo (1996)
Aqui a coisa desandou de vez. Embalados pelo sucesso dos álbuns anteriores, tocando bastante na Mtv e abrindo shows de bandas importantes como o
Motorhead, o
Viper decidiu conquistar um público maior gravando um disco inteiramente em português, passando bem longe de heavy metal ou hard core ou qualquer coisa pesada. Resultado: não conquistou público nenhum, perdeu uma boa parte dos fãs antigos e ainda por cima, com a falência da gravadora, o disco não chegou em grande parte das lojas do país. Uma verdadeira catástrofe. Uma música foi executada nas rádios,
8 de Abril.
Nota: 5,0. All My Life (2007)
Com a saída de Yves Passarel em 1999, a banda ficou mais ou menos parada, retornando em 2004, fazendo alguns shows com uma nova formação. Depois de onze anos sem gravar um disco, o Viper mostra seu novo vocalista Ricardo Bocci, e seu novo guitarrista Val Santos (ex-roadie da banda, mas que atualmente foi substituído por Marcelo Mello) em um trabalho chamado
All My Life. Bem, fica claro logo nos primeiros acordes que a intenção era retornar aos áureos tempos do
Soldiers e do
Theatre, principalmente pela voz de Bocci, muito parecida com a de André Matos, e pelas guitarras
maidenianas. O resultado ficou muito bom, e faixas como a faixa título,
Love is All (com participação de André Matos),
Violet e
Dreamer merecem destaque. Belo retorno, mas O Viper tem capacidade para andar pra frente e fazer coisas mais originais.
Nota: 8,0.